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Santa Teresa senta nos trilhos e protesta contra obras do bonde

Resposta à Nota do Governo do Estado do Rio de Janeiro

Em sua “Nota sobre abondes obras para o bondinho de Santa Teresa”, divulgada no dia 26 deste mês, a Casa Civil do Governo do Estado tenta politizar questões de natureza técnica e tenta desqualificar a AMAST, faltando com o respeito a uma das primeiras Associações de Moradores criadas na cidade, que atua há mais de 35 anos no bairro, articulando-se e colaborando com governos de todas as vertentes políticas, sempre com o objetivo de garantir o direito dos moradores e de preservar o patrimônio histórico, cultural e natural de um bairro que é de todos os brasileiros.

É de um cinismo grosseiro e evidente culpar os moradores por um atraso em uma obra com prazo de conclusão de 120 dias, em função de um protesto iniciado aos 130 dias de atraso com nenhum trecho da obra concluída.

Muitos governantes passaram, muitos políticos que enfrentamos foram esquecidos pela história, e nós continuamos vivos e ativos na defesa da cidadania.

Na referida nota, o governo tenta desviar a atenção da mídia e do público para uma suposta tentativa de boicote às obras de restruturação do Sistema de Bondes de Santa Teresa. Assim fazendo, deixa claro que seu real propósito é o de ocultar que os trabalhos estão sendo conduzidos e nosso bairro da mesma maneira como são conduzidos trabalhos em áreas desabitadas, ou seja, sem qualquer consideração para com o denso espaço urbano onde estão inseridos e para com a vida das pessoas que vivem ao longo dos canteiros. Isso sem falar no enorme atraso que essas obras já acumularam.

Aquilo que a Casa Civil mais pretende encobrir é sua inegável responsabilidade pelas gritantes falhas de planejamento que estão na origem dos dramáticos atrasos que os trabalhos têm sofrido. O fato é que governo e empreiteira contratada deram início à obra prematuramente, e sem conhecer e considerar suficientemente as peculiaridades do terreno em que estão operando.

Ao acusar de sabotagem os moradores que são os principais interessados na obra, o governo tenta evitar o reconhecimento do fato de que está desrespeitando de modo flagrante o Edital da Obra e vários parágrafos do Projeto Executivo que ele mesmo formulou. Que faz isso ao permitir que as calçadas da Joaquim Murtinho sejam utilizadas como depósito de entulho e materiais diversos e ao permitir que o trânsito dessa mesma rua seja integralmente interrompido durante várias horas por dia, sem qualquer preocupação com a situação dos moradores, entre outras falhas e erros grosseiros.

Da mesma maneira, o governo parece ignorar que os trajetos dos ônibus se tornaram mais longos, demorados e complicados em todo o bairro, prejudicando todos aqueles que dependem dos transportes públicos e que sofrem com os atrasos da obra e com a desorganização de suas vidas, sem qualquer previsão credível de volta às suas rotinas anteriores.

É fácil entender, portanto, que a decisão prepotente, insensível, tecnicamente injustificável e arbitrária de abrir um novo canteiro numa das artérias mais estratégicas do bairro tenha sido recebida pelos moradores com enorme resistência. O governo sabia que ia enfrentar resistência e foi por isso mesmo que não dialogou com ninguém antes de operacionalizar a absurda idéia. Estava claramente resolvido a enfrentar os moradores e enfiar o novo canteiro goela abaixo de todos os que a ele resistissem. A natureza violenta da intervenção policial dirigida contra moradores pacíficos, entre eles muitas mulheres e pessoas de idade avançada, assim como as ofensivas lançadas por tratores da empreiteira contra vizinhos que protestavam contra a abertura do novo e absurdo canteiro, ilustraram de modo mais que claro que o governo não recuaria diante de nada e, muito menos, da razão pública.

SANTA TERESA NÃO É PARA PRINCIPIANTES

Ao contrário da atual administração estadual e das empresas por ela contratadas, que não conhecem o bairro, a AMAST e moradores já acompanharam de perto duas obras de restauração do sistema. Aquela que foi realizada nos anos 90 e aquela dos anos 2000. Ninguém melhor, portanto, que os moradores e AMAST, aliás, para conhecer as fragilidades do terreno e da estrutura urbana do bairro. Esse conhecimento dos moradores e da Associação foi inúmeras vezes colocado ao dispor do governo e das empreiteiras que, sem qualquer respeito, por reiteradas vezes desconsideraram, negaram ou até mesmo desmarcaram reuniões conosco. Mesmo assim, da melhor maneira possível, através de intenso diálogo informal com os engenheiros da obra e com os moradores, sempre contribuímos para o bom andamento dos trabalhos.

Para concluir, é importante dizer que ao tentar desqualificar e reduzir a representatividade do movimento dos moradores e pretender que tudo não passou da agitação de um grupo de 30 pessoas com interesses político-partidários, o governo esquece que está se referindo a cidadãos que, em rodízio constante, ao longo de 90 horas, debaixo de sol e chuva, garantiram uma presença constante do movimento de resistência no Largo do Guimarães e na Praça Odilo Costa Neto. Que está se referindo a pessoas que deixaram de lado suas famílias, seus compromissos e suas vidas pessoais para proteger um patrimônio que é público.

Parece-nos evidente que o governo não entende nada da vida em Santa Teresa, nossas dificuldades cotidianas e o que significa o amor pelo bairro em que se vive, a dedicação aos vizinhos. Mas também pudera: grupos de burocratas que há muito esqueceram que deveriam estar servindo ao povo, hoje ocupados permanentemente em servir aos negócios, às empreiteiras e afins, resultam brutalizados, sem poder distinguir entre o razoável e o absurdo.

Se ainda houver dúvida sobre isso, recomendamos aos interessados que acessem a página da Panela de Pressão: Não somos 30! Somos Santa Teresa! ( http://paneladepressao.meurio.org.br/campaigns/433) onde, apesar de estarem sendo ameaçadas de perseguição jurídica pela nota da Casa Civil, em menos de 24 horas aproximadamente 600 pessoas já se identificaram como sendo uma das 30 que, no entendimento do governo, estariam tentando sabotar as obras de reestruturação do Sistema de Bondes de Santa Teresa. Nada disso faz sentido! Os moradores de Santa Teresa querem, sim, a volta do sistema que foi sucateado por este governo, responsável por 8 mortes, que agora quer nos acusar de sabotagem. Queremos sim as obras, mas não podemos aceitar que, por conta da inépcia e despreparo dos responsáveis, nossas vidas seja pisoteadas e transtornadas. Existem outras maneiras de fazer as coisas e nós sabemos quais são.

Quem ama cuida! E nós vamos continuar a cuidar de nosso bairro, pelo bem das gerações futuras e do próprio patrimônio turístico da cidade.

fonte: http://amast.org.br/2014/03/28/resposta-a-nota-do-governo-do-estado/#.UzcLx9fsgVY

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